Na roda de amigos os pais enlutados carregam um rótulo, um constrangimento social. Levam consigo a realidade da finitude e a difícil noção de que a vida pode ser alterada.
Para quem não perdeu um filho é muito duro olhar para o lado e entender quem vive tal situação. Perceber que o luto pode estar presente na nossa casa é muito difícil e parece desesperador. Não é à toa que a maioria das pessoas não consegue lidar com a morte. Neste contexto as famílias enlutadas, que configuram significativa parcela da população, seguem suas vidas sem acolhimento adequado. Portanto, é urgente falarmos sobre isso. Há muito a ser feito, mas com certeza estamos no caminho!
Por que acolhemos e informamos pais enlutados? Acreditamos no potencial da informação como base do autoconhecimento e aceitação de si próprio e da condição. Falar sobre o luto parental é desmistificar os sentimentos que parecem impossíveis de serem vividos. Entender o processo do luto significa pertencer a um grupo que, mesmo não estando unido fisicamente, faz das pessoas parte de uma rede que sofre e sente junto.
Por que lutamos pela mudança da atitude social perante o luto parental? Tão numeroso quanto invisível, o luto é seguido pela negação social. Existe um preconceito estrutural e intrínseco que transforma as famílias enlutadas em personagens de um mundo paralelo criado pelo estigma. Na tentativa falha de ajuda, frases clichês de consolo dificultam ainda mais a vida emocional de quem perde um filho.
O impacto social fica claro em situações concretas. A separação de famílias, falta de produtividade no trabalho, baixa no rendimento das crianças na escola, busca por rotas de fugas (muitas vezes no uso de drogas e álcool), casos de suicídio, depressão e síndrome do pânico são exemplos frequentes do que o luto parental pode causar.
Portanto, lutamos pela mudança desta realidade. Para que pais e mães enlutados se sintam acolhidos não apenas nos grupos de apoio, mas que este sentimento de empatia possa repercutir na família e nos demais âmbitos da sociedade, na qual atualmente se sentem pouco representados (e muitas vezes nada acolhidos).
Por que lutamos por políticas públicas? Dentro deste recorte, evidenciamos que o luto parental e a morte são fenômenos sociopolíticos e, portanto, devem ser trabalhados como tal.
Precisamos que pais e profissionais envolvidos estejam amparados pela lei, para que tenham acesso a capacitação, protocolos de conduta, informação, tratamento e rede de apoio gratuitos, para que sejam auxiliados no percurso do luto.
Para tanto, lutamos pela criação de espaços de discussão política, como frentes parlamentares, semanas de conscientização, inserção de eventos relacionados ao tema em calendários oficiais, a fim de construir um trabalho contínuo e progressivo.
Por que lutar para inserir o tema do luto parental nas escolas? Nem sempre a queda no rendimento da crianças e adolescentes na escola se deve à falta de interesse. Pode ser que a rotina familiar tenha sofrido alteração brusca pela perda de um irmão as reações devem ser analisadas.
Tendo que conviver com a dor de perder o irmão e também com a ausência dos pais, que se convertem em dor, as crianças são apresentadas muito cedo a essa difícil realidade. A escola e os professores, por sua vez, necessitam de um preparo mínimo para o acolhimento às crianças e famílias, visto que a escola e o ambiente educacional funcionam como a segunda casa dos alunos.
Por que fomentar o tema na formação profissional? O luto parental é um tema transdisciplinar, ou seja, precisa estar presente nos debates de diversas áreas de formação, resultando na construção de conhecimento acerca do tema. Profissionais compassivos e capacitados fazem toda a diferença no acolhimento das famílias enlutadas.
Por que trabalhamos o luto parental no âmbito cultural? Acreditamos na arte como forma de comunicação dos sentimentos. Por isso, é tão importante oferecer a famílias enlutadas a possibilidade de se expressar através das mais variadas linguagens.
Com o resultado deste trabalho, propomos um olhar diferente para o luto parental, tanto nas famílias que vivem a realidade quanto na sociedade em geral.
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