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Campanha “Eu não sabia o que dizer”

Grande adicional de dificuldades no processo de luto, o convívio social após a perda é um desafio para pais que perderam um filho em qualquer idade. As frases que compõem a campanha “Eu não sabia o que dizer” foram expressões que pais que perderam filhos em diferentes idades ouviram de familiares, amigos, colegas de trabalho ou de pessoas totalmente desconhecidas e em épocas diferentes. Na maioria das vezes a justificativa para usá-las foi: “Eu não sabia o que dizer…” e acreditamos que isso é verdade. Nos distanciamos tanto de situações que nos fazem sofrer que quando acontecem não sabemos como agir. Queríamos que ninguém precisasse viver, ou conviver com quem passou por essa experiência porque compreendemos a dificuldade de acordar todos os dias e sobreviver a essa realidade. Mas ao não falar, só deixamos os pais sozinhos.

À primeira vista, esta campanha parece apenas uma crítica social ao modo como pais enlutados são tratados, mas na verdade ela demonstra muito mais que o desconforto das pessoas diante do luto parental e a dor dos pais que escutam frases dolorosas ditas como forma de acolhimento; demonstra o abismo entre a realidade de quem vive a perda, e a compressão social diante disso. “Eu não sabia o que dizer” é uma campanha de conscientização sobre o luto parental que tem como objetivo evidenciar a necessidade da abertura de diálogo sobre o tema, além de disseminação e distribuição de informação sobre luto parental para pais enlutados, profissionais de saúde e sociedade em geral de acordo com e lei Helena Maffini 15.895/2022. Não foi só você que disse, não foi só você que ouviu, e isso demonstra que precisamos aprender a falar sobre isso.

Mesmo assim, ajudar alguém em sofrimento é sempre uma tarefa difícil, então você pode estar pensando: “me sinto tão desconfortável quando tento visitá-los e além disso, não há nada que eu possa fazer mesmo”. A verdade é que todos nos sentimos desconfortáveis, pois a morte nos cala e quando inverte a ordem natural da vida, é uma experiência destruidora. Como resultado, sobram os pais e vidas em reconstrução, não há receita pronta, toda reação sincera de acolhida é válida, mas existem formas de cuidar sem invadir e confortar sem utilizar discursos prontos e desnecessários. Há muita informação inadequada que pode prejudicar o fenômeno natural e esperado após a perda, assim sendo colocamos algumas dicas sobre como ajudar.

Esteja disponível: Você pode visitar pessoalmente, falar por telefone ou por redes sociais. Este é o momento em que eles mais precisam da sua amizade. Convide-os para se juntar a você e respeite qualquer decisão que eles tomarem. (sobre aceitar ou não).

Escute bem: Eles não querem respostas ou conselhos, precisam falar sobre o filho, contar sua história e as memórias da vida dele (que não deixarão de existir nunca, porque ele sempre fará parte deles) para alguém que escute. Ouça, acolha e aceite seu estado de espírito, às vezes eles apenas irão chorar calados.

Mostre seu cuidado: Um abraço diz muito mais do que palavras. Realmente não há nada que ninguém possa dizer para aliviar a dor, no entanto, seu cuidado garante a eles que você ainda se preocupa. A melhor coisa a dizer é “Sinto muito por sua perda” e “Posso te dar um abraço?” Essa pergunta é necessária ser feita, muitas pessoas não gostam e sentem como se seu espaço fosse invadido quando abraçam uma pessoa que não tem intimidade.

Abstenha-se de expressões como: “Deus precisava dele”; “Deus nunca dá a cruz maior que a gente pode carregar”. Essas declarações não são úteis. Lembre-se de que não existem respostas simples e mantenha histórias trágicas para você.

Valide sentimentos: Deixe os pais enlutados chorarem, você pode até chorar com eles. A maior perda é a deles, você pode estar sofrendo mas o maior impacto ainda é nos pais.

Forneça suporte emocional eficaz. Por exemplo, organize um memorial em homenagem ao filho ou acompanhe os pais à uma visita ao cemitério. Seja especialmente atencioso com as necessidades dos pais enlutados nas datas significativas, pois são tempos extremamente difíceis, como por exemplo aniversários, dia das mães, dia dos pais e festas de fim de ano.

Seja paciente. O luto não tem prazo.

Seja amável. A natureza mutante do luto é específica de cada indivíduo e saiba que a morte de um filho muda a vida do enlutado para sempre.

O QUE NÃO DIZER?
MELHOR DIZER

“Como você está?”

Provavelmente responderá “estou bem”, ao invés de se expressar genuinamente.

“Deve estar sendo muito difícil…”

Reconhece o momento doloroso e dá a chance de a pessoa sofrer sem cobrança.

“Ele está em um lugar melhor.”

Como você sabe?!

“Eu sinto muito!”

Você realmente evitaria o ocorrido.

Há algo que eu possa fazer por você?”

Receber muitas propostas de ajuda pode ser opressor.

“Vou fazer suas compras de supermercado.”

Ajudas específicas são mais fáceis de aceitar. Desde que você tenha a proximidade adequada para realizar.

“Você é jovem, pode ter outro filho.”

Filhos são insubstituíveis.

“Fale sobre isso, se quiser.”

Permita que a pessoa compartilhe memórias, sendo ouvinte ativo.

“Eu sei o que você está sentindo!”

A experiência do luto é absolutamente individual.

“Posso imaginar o que você sente.”

Dê a chance de a pessoa mesmo dizer como se sente.

“Ele preferia assim…”

A menos que o filho tenha deixado instruções claras, não saberíamos suas preferências.

“Eu gostaria de homenageá-lo assim…”

Use suas próprias memórias e fale sobre o relacionamento de vocês.

“Você está lidando com isso melhor do que eu esperava”

Sua afirmação pode sugerir que ela deveria estar sofrendo mais.

“Está tudo bem se você não estiver bem.”

Dê à pessoa a liberdade de se sentir como for.

“…” (NADA)

Muitas pessoas simplesmente nunca mencionam à família o nome do filho.

“Lembra quando…?!”

Dividir a memória do filho. Ao contar algo dá a chance de eles conhecerem o filho de outra perspectiva.

Conteúdo extraído da “Cartilha de Orientação ao luto parental 7ª Edição”. Para mais informações sobre luto parental e conteúdos que possam ajudar pais enlutados ou quem convive com eles, acompanhe nossas redes sociais.

A Campanha “Eu não sabia o que dizer” faz parte das ações de conscientização e informação da 4ª Semana Gaúcha do Luto Parental, data que consta no calendário oficial do Estado Do Rio Grande do Sul, sob a lei 15.313/2019, alinhada ao July Bereaved Month, mês internacional dos pais enlutados, realizada pela ONG amada Helena em parceria com instituições dos setores público e privado e foi inspirada na campanha “Projecto Benjamin” de Dana Dewedoff, fundadora do RISE for Women.

As fotos são da fotógrafa Daniela Battastini, à qual agradecemos o carinho, respeito e trabalho voluntário a nós oferecido há muito tempo. Esse trabalho só se tornou possível pela busca do rompimento de um tabu e pela coragem dos pais participantes: Luiz Souza Motta e Neusa Aita Agne, Paulo de Moraes e Eluise Araújo, Rerinton dos Santos, Cristiane de Lima, Jucelia Gomes, Anne di Franco e Diego Ignacio, Tamara Martinez e Leonardo Pereira, Felipe Almeida e Kellen Oliveira, Giovane Maffini e Tatiana Maffini, e dos irmãos: Francisco, Antônio, Brenda e Benjamin em homenagem aos filhos: Martin, Antonio Francisco e Maria Helena, Nathalie, Valentina, Rafael, Joana, Lívia, Luís Felipe e Helena.