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Cultura

O luto é, inegavelmente, um processo profundamente pessoal, mas sua relação direta com a esfera social é incontestável. Ao longo dos anos, encará-lo exclusivamente como uma jornada privada e subjetiva resultou em implicações sociais significativas, incluindo o policiamento, a medicalização e a disciplinarização da experiência da perda. Essas abordagens não apenas marginalizam os pais enlutados, mas também obscurecem seus sentimentos.

Limitar a compreensão do luto parental ao escopo psicológico é contribuir para o estigma que o envolve, restringindo esse processo ao domínio do íntimo e do privado, ignorando a diversidade de expressões associadas a esse fenômeno permeado pela influência cultural. Acreditamos na arte como uma poderosa ferramenta para comunicar sentimentos, permitindo aos pais enlutados expressarem-se em diversas linguagens. Diante disso, propomos, por meio deste trabalho, uma perspectiva diferenciada sobre a perda, levando esta mensagem tanto às famílias que enfrentam o luto parental diariamente, quanto a toda a estrutura social. Nosso objetivo é instigar uma reflexão mais consciente e empática sobre as complexas questões de vida e perda nas relações interpessoais.

Exposições fotográficas:

Um mundo em Preto e Branco

Demonstra a dificuldade da experiência e o desafio diário de sobreviver após a perda de um filho, retratando o amor e a dor coexistentes na vida pós-perda, assim como a ausência de sentido da existência, representada pela coloração das imagens. Tem como objetivo conscientizar os visitantes para que compreendam a complexidade e as dificuldades impostas a essas famílias diariamente, buscando modificar a visão da experiência da perda e a acolhida social a esses pais, e reduzir o julgamento, tão comum nas falas dos pais e mães após a perda. Participaram desta exposição as mães: Bruna Bartolomeu, Claudia Castelli, Fernanda Fontoura, Ilse Rott, Rosane Lopes, Tatiana Maffini, em homenagem aos filhos: Bernardo, Vinicius, Soraya, Rosane, Vitor e Helena. As fotografias são de Daniela Battastini.

As cores do meu viver

Quando se perde um filho, os raios de sol parecem não ser mais tão brilhantes, as cores do arco-íris se tornam desbotadas, e parece que toda a vida se apaga, havendo a necessidade de se reinventar. Sobreviver a essa devastadora realidade, que nos tira o chão, vira o mundo de cabeça para baixo e faz com que tudo perca o sentido, é um desafio. “As cores do meu viver” é um convite à reflexão e à vida, onde acontecimentos do cotidiano podem nos ajudar a encontrar forças para prosseguir e lembrar que há pessoas que respiram o ar do nosso amor mesmo após a perda.
Quando contamos com a ajuda de outras pessoas, do nosso bichinho de estimação, nos concentramos no trabalho ou fortalecemos nossa fé, a dor se acomoda, a tristeza se acalma, a saudade se torna menos dolorosa, e conseguimos continuar. Participaram desta exposição as mães: Fabiana Bertoti, Lucimara Arruda, Daniela Poser, Said Buldini, Flávio Correa, Ilse Rott, Tatiana Maffini, Giovane Maffini, Vanessa Paim, Jaqueline Pessoa, Tamires Dutra, Karina Zorzato, Cristiane Lima, Sara Rhoden. Em homenagem aos anjos: Betina, Daniel, Enzo e Sophia, Eric, Luis Eduardo, Pedro e Miguel, Valentina, Helena e Cecília. As fotografias são de Daniela Battastini.

Aprisionados

Falar sobre o luto parental é uma tentativa de desmistificar sentimentos aparentemente impossíveis de serem vividos. Tão numeroso quanto invisível, o luto de quem perde um filho é acompanhado de negação social. Existe um preconceito estrutural e intrínseco que os transforma em personagens de um mundo paralelo, criado pelo tabu e marcado pelo estigma de um mundo que tanto preza pela “vida feliz”. 

No entanto, o impacto fica claro em situações concretas. Como na separação de famílias, por exemplo, ou na falta de produtividade, na busca por rotas de fuga (muitas vezes no uso de drogas e álcool), nos casos de suicídio, depressão e síndrome do pânico, entre outras questões.

A exposição “Aprisionados” é a primeira realizada pela ONG amada Helena a trazer a figura paterna como co-protagonista, demonstrando em imagens fortes a prisão imposta que transforma os pais que perderam filhos coadjuvantes da própria história. As fotografias são de Alessandra Horn com a participação dos pais: Alexandre e Luisa pais de Yuri, Lucimara mãe de Eduardo, Kellen,mãe de Luis Felipe, Viviane mãe de um anjo.

Luto (in)visível

Em uma cultura que educa os homens para se mostrarem fortes, provedores e protetores, o pai enlutado é muitas vezes resumido apenas em apoio ao luto materno. O luto paterno ainda é visto como secundário na perda de um filho, se tornando invisível socialmente e passível de abandono, muitas vezes até por ele próprio.

Isso ocorre devido a expressão de pesar do homem usar estratégias mais voltadas para a ação, como por exemplo se dedicar intensamente ao trabalho, além disso, por serem vistos como a figura de apoio prático, de ações racionais e resoluções, havendo ainda a expectativa da autonomia, que faz com que acreditem que seu luto não deve incomodar os outros, pois diz respeito única e exclusivamente a eles, o que também dificulta o cuidado e a busca por ajuda.

A invisibilização do luto do pai pode agregar dificuldades em todo o processo, levando a sentimentos de solidão, culpa, fracasso e impotência por achar que falhou na proteção da mãe e do filho além de ocasionar diversas reações fisiológicas, como insônia, mal-estar, estresse e fadiga, que dificilmente são associadas ao luto. Muitos ainda ao se sentirem pressionados a se manterem fortes, podem buscar estratégias não saudáveis de evitar a dor, como o abuso do álcool e drogas, que acabam “anestesiando” temporariamente os sentimentos, sofrendo o impacto da perda a longo prazo muito além da saúde mental. Precisamos cuidar do luto paterno, abrir espaços de diálogo e representatividade para que se sintam acolhidos e validados em toda sua experiência,  minimizando dores intrínsecas ao silêncio que hoje ainda permeia o assunto. 

A exposição fotográfica “ luto (in)visível” busca retratar e tornar visível o luto dos pais após a perda de um filho de qualquer idade, demonstrando que mesmo que tenham formas diferentes de expressão, não implica que não sintam, sofram menos ou que não vivam o processo de luto. 

As fotos são de Cleber Brauner Photography, só se tornou possível pela coragem dos pais: André Gomes Heck, Rerinton Peres do Santos, Giovane Maffini, Felipe Almeida do Matos e Delcio Bernar da Silva em homenagem aos filhos: Rafaela, Natalie, Helena, Luís Felipe e Brenda.

Assista a abertura aqui:

Eu não sabia o que dizer

Grande adicional de dificuldades no processo de luto, o convívio social após a perda é um desafio para pais que perderam um filho em qualquer idade. As frases que compõem a exposição “Eu não sabia o que dizer” foram expressões que pais que perderam filhos em diferentes idades ouviram de familiares, amigos, colegas de trabalho ou de pessoas totalmente desconhecidas e em épocas diferentes. Na maioria das vezes a justificativa para usá-las foi: “Eu não sabia o que dizer…” e acreditamos que isso é verdade. Nos distanciamos tanto de situações que nos fazem sofrer que quando acontecem não sabemos como agir.

À primeira vista, pode parecer apenas uma crítica social ao modo como pais enlutados são tratados, mas na verdade é uma exposição que demonstra muito mais que o desconforto das pessoas diante do luto parental e a dor dos pais que escutam frases dolorosas ditas como forma de acolhimento; demonstra o abismo entre a realidade de quem vive a perda, e a compreensão social diante disso. “Eu não sabia o que dizer” é uma exposição fotográfica que tem como objetivo evidenciar a necessidade da abertura de diálogo sobre o tema, além de disseminação e distribuição de informação sobre luto parental para pais enlutados, profissionais de saúde e sociedade em geral de acordo com e lei Helena Maffini 15.895/2022.

As fotos são da fotógrafa Daniela Battastini, só se tornou possível pela busca do rompimento de um tabu e pela coragem dos pais participantes: Luiz Souza Motta e Neusa Aita Agne, Paulo de Moraes e Eluise Araújo, Rerinton dos Santos, Cristiane de Lima, Jucelia Gomes, Anne di Franco e Diego Ignacio, Tamara Martinez e Leonardo Pereira, Felipe Almeida e Kellen Oliveira, Giovane Maffini e Tatiana Maffini, e dos irmãos: Francisco, Antônio, Brenda e Benjamin em homenagem aos filhos: Martin, Antonio Francisco e Maria Helena, Nathalie, Valentina, Rafael, Joana, Lívia, Luís Felipe e Helena. Foi inspirada na campanha “Projecto Benjamin” de Dana Dewedoff, fundadora do RISE for Women.

Assista a abertura aqui:

Campanhas de conscientização: