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Manifesto de final de ano da ONG amada Helena

Para pais e mães enlutados

Disseram que você precisava ser forte.
Disseram isso como se fosse cuidado, mas era exigência.
Como se a sua vivência precisasse ser administrada para não atrapalhar o andamento do mundo.
Quando dizem que você é forte, muitas vezes não estão te elogiando.
Estão pedindo que você não incomode.
Nós não acreditamos que pais e mães enlutados precisem ser fortes.
A exigência de força, nesse contexto, é uma violência simbólica: ela silencia, isola e empurra o que sentimos para lugares onde ninguém mais precise vê-los.

Também disseram — muitas vezes — que seu filho virou um anjo.
Algumas pessoas dizem isso para consolar.
Mas o que muitas mães e pais escutam é outra coisa: seu filho deixou de ser seu filho.
Nós não concordamos com isso.
Seu filho não virou metáfora, nem explicação espiritual para aliviar o desconforto alheio.
Ele foi, e continua sendo, seu filho.
Espiritualizar a perda pode parecer cuidado, mas frequentemente apaga o vínculo mais fundamental que existe.

Disseram ainda que o tempo cura.
Que o luto passa.
Que é questão de aprender a seguir em frente.
Isso também não é verdade.
O luto não passa.
O que pode acontecer, quando há espaço, escuta e respeito, é uma reorganização da vida.
Não é superação.
Não é fechamento.
Não é virar a página.
Se alguém te prometeu que passa, mentiu.
Mas se ninguém te contou que a vida pode se reorganizar, também falhou com você.

Enquanto isso, o mundo segue.
Datas comemorativas voltam.
As pessoas retomam suas rotinas.
As expectativas reaparecem.
Mas o mundo seguir não significa que você precise acompanhar.
O tempo social não pode ser imposto ao tempo do luto.
O mundo tem pressa.
O luto não!

Não existe atraso quando se perde um filho, existe uma experiência em um ritmo próprio.
Apesar de tudo o que foi dito, ou justamente por causa disso, é preciso afirmar algo que raramente é reconhecido:
Você continua sendo mãe.
Você continua sendo pai.
Nesse Natal, nesse ano…e em todos os outros!
A morte não desfaz vínculos.
Ela muda a forma, não o lugar.
A parentalidade não termina com a morte do filho, e negar isso é uma das feridas mais profundas do luto parental.

Ninguém segue em frente deixando um filho para trás.
O que algumas pessoas aprendem, com muito custo, é seguir com.
Com a memória.
Com o amor.
Com a ausência.
Com a presença que não desaparece, apenas se transforma.
Não é sobre seguir em frente.
É sobre seguir com.
Este manifesto existe para dizer aquilo que muitos pais e mães sentem, mas raramente encontram palavras para dizer.

E para deixar claro: o problema não é o seu luto.
O problema é um mundo que não sabe conviver com ele.

A partir de janeiro, a ONG Amada Helena abrirá 6 rodas de conversa online, gratuitas, com vagas limitadas sendo necessário inscrição. Serão divulgadas aqui, fique atento(a).
Essas rodas nascem exatamente dessas ideias.
Dos temas que incomodam.
Do que não cabe em frases prontas.
Do que costuma ser silenciado em nome da “superação” e aceitação social digerível.
Não são palestras.
Não são espaços de correção emocional.
São encontros para pais e mães enlutados que precisam de lugar, não de conserto.
Vagas limitadas porque o cuidado exige presença real.
Gratuitas porque o luto não pode ser tratado como privilégio.
Se este texto te atravessou, talvez não seja porque ele trouxe respostas.
Talvez seja porque ele reconheceu algo que você vive todos os dias.
Aqui, o seu luto não será apressado.
Aqui, seu vínculo não será diminuído.
Aqui, você não precisará ser forte.
Aqui você tem lugar assim como seu filho ou filha.

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