Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

 A coisa mais injusta com uma mãe que perde um filho

A perda se acoplou em mim feito um parasita. Uma homeostase que parece perfeita. Um encaixe onde não se sabe onde começa um e termina o outro. Uma simbiose que mimetiza dias corriqueiros mas esconde o quão injusto o luto pode ser. De fora, quem me vê, acha que superei: “ lá vai ela, de batom vermelho, sorrindo, trabalhando, até grávida de novo está”. Por dentro, um cansaço inesgotável, uma impotência sem fim e um medo desumano de ouvir: “ tu tem outros filhos?’” Diante de Vicente, parece – para os outros- que Martin não tem vez. “ não era pra ser”, “ agora vai ser tudo certo”. Que garantias a vida nos dá? Mas Martin sempre será a presença  da ausência. Que cor seriam os olhos dele? Como seria o sorriso? Qual seria a primeira palavrinha que ele estaria falando? Eu sempre odiei o futuro do pretérito. Tudo aquilo que poderia ter sido, não fosse a morte batendo na nossa porta. É, eu sei. Parece que “ tá tudo bem nesse novo bem”. Mas, em alguns momentos, diante do silêncio da noite, de uma lembrança em formato de choque da tragédia, queria muito pedir pra vida parar;  para as pessoas me darem um tempo; poder me aninhar em um canto, e esperar. Talvez romper barreiras e poder atravessar esse céu… só para ver Martin sorrir e brincar. Que fossem poucos minutos. A vida não para, mesmo que seguir a vida seja a coisa mais injusta com uma mãe que perde um filho. Gestar um novo filho traz esperanças, sim. Faz a vida ter uma espécie de recomeço. Mas não, nunca haverá um futuro perfeito, onde eu tenha meus três filhos comigo. Somente o futuro do pretérito.

Neusa, mãe do Franscisco, do anjo Martin e do Vicente (a caminho)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Lanterna do Amor Eterno

Lanterna do Amor Eterno

imagemSlashio Photography Se está lendo isso através do QR Code da nossa "Lanterna do Amor Eterno" que acompanha uma das nossas "Caixas de Memória", saiba que estamos enviando um abraço

Qual é o tempo NECESSÁRIO para se despedir de um filho?

Qual é o tempo NECESSÁRIO para se despedir de um filho?

A chimpanzé Natalia, de 21 anos, perdeu seu segundo filhote após 14 dias do nascimento e há mais de três meses ela o carrega consigo enquanto cumpre sua rotina diária.

Fases do luto?

Fases do luto?

A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross publicou em 1969 o livro "Sobre a morte e o morrer", onde categorizou as reações psicológicas e as mudanças comportamentais de pacientes terminais, desde o momento

No mês das mães, como me definir neste papel?

No mês das mães, como me definir neste papel?

Refleti muito nos últimos dias sobre a maternidade e como me definir nesse papel, especialmente neste mês. Mãe enlutada, mãe de anjo, mãe de estrela... Percebi que, na busca por

 A coisa mais injusta com uma mãe que perde um filho

 A coisa mais injusta com uma mãe que perde um filho

A perda se acoplou em mim feito um parasita. Uma homeostase que parece perfeita. Um encaixe onde não se sabe onde começa um e termina o outro. Uma simbiose que

Ayla é a luz que ilumina nossos caminhos, é força, é motivação para não desistirmos.

Ayla é a luz que ilumina nossos caminhos, é força, é motivação para não desistirmos.

Minha amada e desejada menina. Ayla V. Gomes nasceu no dia 01/09/21, às 8:20 da manhã, pesando 3,260kg. Nasceu de parto normal induzido; infelizmente, houve negligência durante a indução e