Um retrato sobre luto, ansiedade, depressão e estresse após a perda de um bebê
Juliana Salum de Oliveira Molinari1
Betine Pinto Moehlecke Iser2
“As perdas gestacionais e neonatais são experiências profundamente dolorosas, que deixam marcas físicas e emocionais profundas em mães, pais e famílias inteiras. Apesar de serem eventos relativamente frequentes, suas consequências ainda são pouco reconhecidas e, muitas vezes, silenciadas.
Com o apoio da ONG Amada Helena, conduzimos uma pesquisa nacional para mapear os efeitos psicológicos dessas perdas em pais brasileiros. Nosso objetivo foi investigar sintomas de luto, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático após a perda de um bebê — seja por aborto espontâneo, óbito fetal (natimorto) ou óbito neonatal.
A pesquisa contou com 387 participantes de 23 estados brasileiros, a maioria mulheres, mas também com a valiosa participação de pais. A coleta foi feita de forma on-line, garantindo o alcance de diferentes regiões do país. Todos os procedimentos seguiram rigorosos cuidados éticos e, para os participantes que apresentaram sintomas elevados, foi oferecido acolhimento psicológico gratuito através de profissionais voluntários da ONG.
Principais resultados
Os dados revelaram um cenário de grande impacto emocional. Mais de 60% dos participantes apresentaram sintomas clinicamente relevantes de luto, ansiedade e depressão, e mais da metade mostrou sinais de estresse pós-traumático. Essas taxas foram, em geral, mais altas do que as observadas em estudos internacionais, especialmente entre quem vivenciou perdas neonatais e fetais. Observamos também que os sintomas tendem a diminuir com o tempo, mas podem voltar a se intensificar mesmo após dois anos da perda — lembrando que o luto não tem prazo e cada trajetória é única.
O que esses dados nos mostram
Embora nossa amostra não represente o Brasil como um todo, os resultados chamam atenção para a magnitude e persistência do sofrimento enfrentado por pais e mães após uma perda perinatal. Os números reforçam o que tantas famílias expressam: a dor é intensa, persistente e precisa ser validada e acolhida.
Acreditamos que esses dados podem ajudar a embasar e fortalecer políticas públicas e ações de cuidado emocional, como está começando a ser feito, a partir, por exemplo, da recente criação da Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental. É fundamental que profissionais de saúde e a sociedade reconheçam a importância de um acolhimento sensível, empático e sem julgamentos, com embasamento teórico e técnico para minimizar os prejuízos a saúde das famílias.
Cada bebê importa
Mais do que números, cada dado representa uma história. Cada bebê importa. Cada mãe, cada pai e cada família que vivenciaram a perda de um filho merecem ter sua dor reconhecida e seu amor validado. Que nossos achados possam contribuir para diminuir o silêncio, ampliar o cuidado e inspirar novas formas de acolher o luto. O texto completo, com mais detalhes dos resultados e processo metodológico da pesquisa, em breve está disponível para download.
Tabela: Prevalência total de sintomas de luto, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático encontradas nos participantes da pesquisa.

Amostra do artigo para leitura
- Psicóloga Clínica com ênfase em perinatalidade, casais e famílias. Mestrado no Programa
de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Unisul, Campus Tubarão, SC. - Doutora em Epidemiologia e Professora no Programa de Pós-graduação em Ciências da
Saúde da Unisul, Campus Tubarão, SC.






