A dor não precisa se transformar, às vezes só precisa ser reconhecida e que a deixem existir e doer.
O risco de suicídio entre mães que enfrentam a perda de um filho é um tema extremamente sério e, infelizmente, ainda muito subnotificado e negligenciado, tanto em políticas públicas quanto na literatura popular. A perda de um filho — seja durante a gestação, no parto, na infância, adolescência ou vida adulta — é considerada, por diversos estudos, o evento mais doloroso e desorganizador que um ser humano pode viver. Trata-se de uma inversão do ciclo natural da vida. No luto parental, o risco de adoecimento mental e ideação suicida aumenta consideravelmente, especialmente quando a rede de apoio é inexistente ou fragilizada.
Um estudo publicado na revista científica The Lancet Psychiatry (2019), resultado de um acompanhamento de mais de 1 milhão de mães por 25 anos e mostrou que mães que perderam filhos têm risco de suicídio 2 a 4 vezes maior do que a população geral.
No Brasil, não há dados oficiais específicos sobre suicídio materno após a perda de filhos — uma falha estrutural. O estudo “Child Loss and Risk of Suicide: A Nationwide Follow-Up Study” (Denmark, 2017) evidenciou que o risco permanece elevado mesmo décadas após a perda, e é ainda maior em mães que não tiveram outro filho após o luto.
Fatores de Risco que Potencializam a Ideação Suicida em Mães Enlutadas
– Isolamento social: pessoas se afastam, com medo de “não saber o que dizer”.
– Falta de validação: a sociedade muitas vezes deslegitima o luto, sobretudo em perdas perinatais ou gestacionais.
– Culpa e autoacusação: a pergunta “onde foi que eu errei?” pode virar uma tortura diária.
– Desestruturação da identidade: muitas mulheres sentem que perdem seu papel como mãe, como mulher, como cuidadora.
– Histórico prévio de depressão, ansiedade ou trauma: que pode ser reativado ou agravado.Sinais de Alerta para o Suicídio em Mães Enlutadas
– O Silêncio da Sociedade e o Abandono do Estado, onde há uma grande lacuna nas políticas públicas brasileiras no cuidado pós-perda, apesar de ter sido aprovada a primeira política pública federal com o tema, o período de sua aprovação até a implementação de fato, será longo e deixará ainda muitas mães desasistidas; no SUS não tem protocolos amplamente difundidos para acolhimento a mães enlutadas; não há preparo técnico nos serviços de assistência social, saúde mental ou educação; muitas mães são medicalizadas, mas não escutadas.
A maior parte dos grupos de apoio são iniciados e mantidos sem apoio público, por mulheres que vivenciam o luto, como a ONG Amada Helena.
Sinais de Alerta para o Suicídio em Mães Enlutadas
– Frases como: “Não tenho mais para quem viver”, “A vida perdeu o sentido”, “Queria estar com ele/ela”.
– Isolamento crescente e rejeição a atividades que antes eram significativas.
– Negligência com o autocuidado.
– Desinteresse por outros filhos (em caso de filhos vivos).
– Insônia crônica, agitação ou apatia extrema.
– Busca por meios letais, despedidas sutis ou arranjos financeiros e de despedida.
Caminhos de Cuidado e Prevenção
Acolhimento que não julga, escuta sensível é o primeiro passo. Nem toda dor quer ser curada — muitas só querem ser reconhecidas.
Grupos de apoio com outras mães: o sentimento de identificação com pares tem poder terapêutico imenso.
Psicólogos e psiquiatras especializados: o luto parental é uma área que exige preparo técnico e afetivo. Nem toda terapia dá conta dessa dor.
Políticas públicas efetivas: incluir o luto parental na política nacional de saúde mental e assistência social é urgente.
Capacitação de profissionais: todos os que atendem famílias devem ser instrumentalizados para lidar com o luto.
Precisamos saber que o luto materno também mata!
O suicídio materno pós-luto não é fraqueza, é exaustão diante de uma dor monumental, somada à solidão social e à ausência de políticas.
Reconhecer o perigo é salvar vidas.
Acolher é prevenir.







