A chimpanzé Natalia, de 21 anos, perdeu seu segundo filhote após 14 dias do nascimento e há mais de três meses ela o carrega consigo enquanto cumpre sua rotina diária. Isso nos lembra da orca que carregou o filhote morto por mais de 17 dias e de inúmeras cenas de elefantes enterrando filhotes que morrem após realizarem uma espécie de ritual de despedida.
Isso nos traz a reflexão que quando nos despedimos definitivamente de um filho, somos confrontados com uma dor tão intensa que não pode ser explicada ou resolvida apenas racionalmente, porque não somos apenas cérebros processando informações: somos seres sociais, com emoções, sentimentos e pensamentos, cuja dor pela perda de um filho ecoa em cada fibra do nosso ser. Ela se manifesta não apenas em pensamentos, mas em sentimentos viscerais, comportamentos e reações nos níveis mais profundos de nós, levando a um estado de sofrimento que ultrapassa a lógica e a racionalidade.
A perda de um filho transcende a capacidade racional de compreensão e processamento de maneira brutal, não diferenciando humano e animal, ser racional ou irracional, já que o amor independe das capacidades cognitivas. Essa experiência de perda é universal e, ao mesmo tempo, profundamente pessoal, cada pessoa enfrenta o luto de maneira única, mas o aspecto irracional da dor é uma constante.
Nesse momento, nós, seres humanos, mesmo com anos de evolução, temos a mesma resposta irracional que um animal: “Ninguém vai me separar de você!”
Embora não possamos racionalizar a dor da perda, podemos seguir o exemplo dos elefantes, que permanecem presentes uns para os outros, oferecendo conforto e compreensão nesses momentos em que as palavras e a razão falham.
O que percebemos na vivência social do luto é a pressa, o silenciamento, a pressão pelo esquecimento, pelo deixar descansar, por não ir mais ao cemitério, ao mesmo tempo em que compreendem a necessidade do período que um animal precisa para se despedir de um filho e aceitar sua partida:
“Nos primeiros dias, dava para ver claramente que era um filhote, e que estava morto. A grande maioria das pessoas ficava surpresa, mas compreendeu — e demonstrou – uma reação de empatia muito, muito forte com a situação e respeito por uma mãe que está em processo de luto pela perda de um filho.” O corpo do filhote passou por um processo natural de decomposição, e o zoológico se certificou de que isso não resultaria em problemas sanitários, para permitir à chimpanzé uma separação gradual da cria, até que se sinta preparada para tal. (trecho da reportagem da BBC News).
A reflexão trazida, portanto, não é por que animais podem se despedir de seu filho a seu tempo, e sim por que não permitimos que os seres humanos tenham mais tempo para lidar com a despedida dos seus.