Para muitas pessoas, pode parecer incomum ou desconfortável a ideia de fotografar um bebê que nasceu sem vida. Em qualquer tempo de gestação em que a perda ocorra, não se espera que os pais tirem fotos dos seus filhos, muito menos que as compartilhem. É claro que todas as pessoas, sejam os pais, famílias amigos ou mesmo a equipe de saúde, iriam preferir a fotos desses bebês crescendo Mas, para as famílias isso não é possível, mesmo no início da gestação, essas imagens têm muito significado.
Elas não são mórbidas nem inadequadas – são registros de amor, de um vínculo único e eterno. Esses bebês são filhos. Eles fazem parte da história dessas famílias, mesmo que tenham vivido biologicamente por pouco tempo. Fotografar um bebê sem vida é uma forma de validar sua existência e preservar uma memória que pode trazer conforto. No Brasil, o tabu sobre o tema ainda é enorme. Os julgamentos que os pais enfrentam ao postarem fotos de seus bebês, como aconteceu recentemente, é um exemplo de como precisamos amadurecer enquanto sociedade para acolher essas histórias e respeitar as escolhas dessas famílias.
Em outros países, como os Estados Unidos, projetos como o Now I Lay Me Down to Sleep, que existe há mais de 20 anos, oferecem serviços gratuitos de fotografia para pais enlutados, reconhecendo o valor terapêutico e simbólico dessas imagens, assim como o grupo Colcha do Brasil que um trabalho semelhante. Aqui, ainda enfrentamos barreiras culturais e preconceitos que invalidam a importância desses filhos e do amor que permanece. Mas é preciso avançar. Validar esses filhos como parte integrante da história familiar é um passo importante para quebrar o silêncio em torno do luto parental e acolher os pais em sua jornada. Vamos juntos ampliar essa conversa e criar um espaço onde essas memórias sejam vistas pelo que realmente são: provas de amor e lembretes de que, mesmo nas ausências, o vínculo permanece.
Fotografias ©Now I lay me down to sleep – https://nowilaymedowntosleep.org/. ®️ – Instagram – ong.amadahelena